São 715 mil documentos, contemplando e-mails, contratos, auditorias, formas de pagamento e contas obtidas. “Luanda Leaks” é um dossier que foi divulgado pelo ICIJ – Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação – e analisa 356 Gigabytes de informação relativa aos negócios de Isabel dos Santos entre os anos 1980 e 2018.
Divulgado no dia 19 de Janeiro, “Luanda Leaks” desmascara o império de Isabel dos Santos, feito a partir das relações privilegiadas com o Governo de Angola que é presidido pelo seu pai, José Eduardo dos Santos.
Entre faturas e ordens de pagamento, existe uma transferência de 100 milhões de euros da Sonangol para uma empresa offshore no Dubai. Os documentos atestam a existência de uma rede com mais de 400 empresas, sendo que a maior parte delas é offshore, revelando todos os investimentos e a origem da fortuna de Isabel dos Santos que, até agora, é a mulher mais rica em Angola.
Antigos parceiros, empresas com participação na sua empresa, governos e entidades de justiça pelo mundo inteiro lançam ataques contra Isabel dos Santos, que garante combater esta polémica nos tribunais até ao fim.
O procurador geral de Angola afirmou até que pode, eventualmente, ser emitido um mandado de captura contra Isabel dos Santos, caso a lei o permita. O próprio governo angolano afirma que “a lei tem de ser igual para todos”, dado ênfase à sua convicção de tentar desvendar o caso a fundo.
Posição portuguesa
O Ministério Público refere que irá “analisar toda a informação que tem vindo ao público, desencadeando os procedimentos adequados no âmbito das suas atribuições”. Afirma ainda que “dará total seguimento aos pedidos de cooperação judiciária”.
“John”, das “Football Leaks”
O advogado de Rui Pinto, William Bourdon, mais conhecido como “John” das “Football Leaks”, revela que Rui é a única fonte de investigação conhecida por parte de toda a informação desvendada no caso “Luanda Leaks”. O disco rígido foi partilhado com a PPLAAF, uma plataforma de proteção de denunciantes em África.
Rui Pinto passou 3 anos a trabalhar por detrás deste pseudónimo, enviando mais de 70 milhões de documentos de clubes de futebol para a revista alemã Der Spiegel. O nome “Football Leaks” ficou conhecido pelo facto de toda a informação descoberta revelar o alto nível de corrupção ao nível dos grandes clubes.
O site
Rui Pinto, numa entrevista exclusiva à Der Spiegel, revela que é fanático por futebol desde criança e percebeu que o futebol caminhava na direção errada. Toda a competição dava maior privilégio aos clubes de topo. Assim, o que impulsionou o hacker português a criar o site “Footbal Leaks” foi o enorme escândalo da FIFA em 2015.
A mulher mais rica de Angola envolvida num enorme escândalo de lavagem de dinheiro
O arguente aguarda julgamento em Lisboa e justifica que queria expor “todas as atividades que eram ilegais e contra o interesse público, auxiliando a sociedade a entender a cumplicidade e envolvência destes facilitadores no enriquecimento de Isabel dos Santos, à custa dos angolanos pobres”.
O seu advogado atesta ainda que “graças ao nosso cliente, os cidadãos portugueses, bem como os cidadãos do mundo inteiro, têm agora acesso à verdade de um extraordinário sistema de predação e corrupção, gravemente prejudicial para Portugal, Angola e outros países”.